quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

PSICOLOGIA JURÍDICA E OS ESTUDOS SOBRE A VIOLÊNCIA

Paula Biazus

A escolha deste tema deve-se ao fato da proximidade teórico-prática que tenho desenvolvido junto ao Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Adolescência e Violência – o GRADES –, grupo este que pretende, desde seu começo, a refletir e produzir conhecimentos sobre a temática da adolescência e violência.

Mas sabemos que a produção de conhecimento não se limita à ciência e que cada área do conhecimento tem seu valor indiscutível. A presente postagem buscará falar sobre o científico, mas primeiramente, vamos pensar em outras possibilidades.


O sensacionalismo, presente em algumas mídias, num todo, tende a apresentar o adolescente em conflito com a lei com desqualificadores, geralmente de sua condição natural de ser humano, assim como quando falamos em “menor”, “infrator”, “delinquente”, “pilantrinha”, “pivete”, “bandido”, “marginal”; sem desconsiderar o ato infracional cometido pelo adolescente, mas também sem deixar de vista que este é um sujeito em especial condição de desenvolvimento (VOLPI, 1997). O risco que se incorre ao utilizar estas terminologias corresponde à redução da vida e identidade do adolescente ao ato infracional cometido, aspecto amplamente discutido por Foucault (1997). O intuito dos diversos estudos sobre violência é desmistificar, apresentar novas propostas e buscar desprender o pensamento das conotações ideológicas que circundam o pensamento sobre o tema.

Assim como já discutimos a cerca dos termos utilizados e que não deixam de ser uma forma de violência, visto que aprisionamos o pensamento e o próprio sujeito em uma condição, da qual, existe a possibilidade de sair; para Priuli e Moraes (2007), adolescentes institucionalizados por terem cometidos atos infracionais tiveram identificadas situações de vulnerabilidade pessoal e familiar, sendo assim, o problema tendo dimensões muito maiores do que a fala de quem olha simplesmente por fora. Foi detectado que a maioria dos jovens residia em uma área cuja precariedade social é revelada pela existência de poucos equipamentos sociais, caracterizando-se por uma maioria populacional de menor poder aquisitivo e baixo nível de escolaridade, e ainda pelo alto coeficiente de mortalidade infantil (PRIULI & MORAES, 2007). Com isso não podemos nos limitar a considerá-los somente como autores de violência, mas concebermos que estes também são vítimas.

A presença de fatores de risco no contexto social desses adolescentes também incorrem em um aumento da ocorrência de atos infracionais, indicando, segundo Dell’aglio et al. (2005), que há um ciclo de violência na trajetória desses sujeitos. Tanto de aceitação, quanto de reprodução da violência. Levando em conta que é difícil vislumbrar novos caminhos quando atuamos como cavalos de corrida, olhando somente para o objetivo final – que por muitas vezes é somente esperar o resultado de toda uma sociedade em queda –, as pesquisas em violência (contra a mulher, o homem, a criança, o adolescente ou cometidas por algum destes pares) servem, ao meu ver, exatamente para isso: para abrir caminhos possíveis de intervenção e conhecimento que venham a auxiliar na construção de estratégias mais efetivas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DELL’AGLIO, D. D.; BENETTI, S. P. C.; DERETTI, L.; D'INCAO, D. B.; LEON, J. S. Eventos estressores no desenvolvimento de meninas adolescentes cumprindo medidas sócio-educativas. Paidéia, vol. 15, n. 30, 119-129, Ribeirão Preto, janeiro-abril, 2005. IN: ZAPPE, J.G; DIAS, A. C. G. Adolescência, Ato infracional e Processos de Identificação: um estudo de caso com adolescentes privados de liberdade, 2010. 148f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. 32 ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

PRIULI, R. M. A.; MORAES, M. S. Adolescentes em conflito com a lei. Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.12, n.5, 1185-1192, setembro-outubro, 2007. IN: ZAPPE, J.G; DIAS, A. C. G. Adolescência, Ato infracional e Processos de Identificação: um estudo de caso com adolescentes privados de liberdade, 2010. 148f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
VOLPI, M. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: Cortez, 1997. 

Um comentário:

  1. Paula, minha experiÊncia de estagio na Fundação de Atendimento Socioeducativo - a FASE, me permite comentar sobre sua postagem, pois la eu pude conviver um pouco com adolescentes em conflito com a lei. Tive a oportunidade de trabalhar na documentação de cada adolescente que passou (ou esta) pela FASE e muitas vezes parei para analisar a historia de cada um deles. Alguns tem os pais presos, outros foram pra rua por que apanhava em casa, mas a grande maioria inicia com os proprios pais dentro de casa, a bebida é uma das maiores aliadas da violencia contra crianças e adolescentes. Ninguém entra no mundo das drogas e da violencia por que quis, pois nao é nem um pouco legal, nem divertido. Pode-se concluir que como falastes, muitos desses adolescentes pode ser visto mais como uma vítima da sociedade que o violenta, do que o criminoso autor da violência.

    PAULA APARECIDA DIFANTE MARAFIGA

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